sábado, 11 de agosto de 2018

O MARCO ZERO E A ROSA DO VENTOS: DO NADA PARA LUGAR NENHUM

Depois do sumiço do perfeito, do vice-perfeito, dos médicos das UPAs, das agroindústrias, do Bergamóz, das bergamotas e do delegado Pasúbio, a triste cidade está chocada com o sumiço do seu Marco Zero.

E para falar sobre o assunto,  procuramos, durante a semana inteira, pelo nosso tio Joanim Pepperoni. Hoje, finalmente, mas sem revelar o seu paradeiro, ele conversou conosco por torpedo SMS (ilimitado para todas as operadoras).

INFAMES: O senhor anda meio sumido, tio Joanim...
JOANIM: Eh que ta na moda sumir 😆
INFAMES: hahaha O que o sr. acha que aconteceu com o marco zero da cidade?
JOANIM: Sumiu, neh 🙈
INFAMES: Isso a gente sabe kkkk. Ele foi roubado ou recolhido pelo perfeito?
JOANIM: Acho que as duas coisas
INFAMES: ???
JOANIM: Corre um boato que ele quer fazer um busto de bronze pra ele. Aih ele mandou roubar, ou ele mesmo roubou a placa de bronze
INFAMES: Mas uma placa daquele tamanho não da pra fazer um busto 🤔
JOANIM: Pro tamanho dele, tem bronze pra umas tres estatuas. Dah pra colocar uma na prefeitura, uma no parque dos macaquinhos e uma na praça centenario
INFAMES: Sabia que ele mandou recolher todas as placas de bronze da cidade?
JOANIM: Não sabia. Então o caso eh mais serio então que eu pensava
INFAMEE: Como assim???
JOANIM: Caso de megalomania 🤐
INFAMES: Então so Freud na causa?
JOANIM: Simão Bacamarte, discipulo dele  kkkk
INFAMES: O que muda na cidade sem o marco zero?
JOANIM: Nada! A cidade ja estava cheia de buracos antes. Mas tem gente que vai aproveitar pra questionar na justica as medidas dos lotes la do seculo XIX
INFAMES: Ah, sim, o marco zero servia de referencia para os agrimensores
JOANIM: Isso. O marco zero eh como palanque de divisa de lote. Se sumir, da uma  baita confusao
INFAMES: E no caso da rosa dos ventos que estava na mesma placa?
JOANIM: O que tem ela?
INFAMES: Ela sumiu também...
JOANIM: 😱
INFAMES: O que muda na cidade sem ela?
JOANIM: Nada. A cidade nunca soube pra onde ir

Da redação, 
Joanim Rosa e Zero Caruncho 



quinta-feira, 17 de maio de 2018

DE CAMELIVROS E CAMELIVRÓDROMOS

Temos visto, nesta triste cidade, uma proliferação de textos literários, como se estivéssemos em plena epidemia do que o honorável Joanim Pepperoni PhD chamou de Writing Obsessive-Compulsive Disorder (LOCODe atar).

Já falamos sobre isso em outro momento e, portanto, o tema não é novidade... Todavia, há que se retornar a ele, pois o caso é cada vez mais sério e requer nossa atenção (e, quem sabe, até de algum profissional de saúde laboral).

Os fatos: há poucos dias, lemos na taimelaine de um escritor, com carreira consolidada, que ele tinha cinco (!) livros prontos para publicação -  isso, considerando que esse gênio já está publicando 1,53279666 livros por ano; de outro, ouvimos pessoalmente que tinha mais de 502 (!) poemas escritos e que, nessa perspectiva, teria uns 10 livros prontos; e de um terceiro, ficamos sabendo que encomendou um software (!) para produzir poemas...

Ora, essa compulsividade pela escrita e publicação tem produzido livros de tão baixa qualidade, que lembram bugigangas fabricadas na China e contrabandeadas para o Brasil via Paraguai.

As fábricas e usinas locais, contratadas para imprimir os livros, deixam a comercialização por conta dos próprios autores. Elas abrem mão desse ônus, porque sabem que as livrarias não têm interesse nesses produtos. Resultado: os autores, como vendedores ambulantes, vão para a rua vender seus milhares de "brinquedinhos do Paraguai". 

Mas, em se tratando de livros, geralmente o consumidor que goza de liberdade e gosta de ler dirige-se até as livrarias, onde com prudência e sabedoria demora-se na procura e na escolha do livro da sua vida. Ele, pois, não os compra do camelivros...

Na escolas, contudo, a situação é diferente. Enclausuradas, as crianças dão a vida por algum acontecimento que quebre a monotonia das aulas. Torcem para que falte luz, para que um professor fique doente, para que uma epidemia de ebola suspenda as aulas por um mês etc... Mas isso tudo não depende da vontade dessas pobres almas suspensas da vida como balões de gás presos por uma corda.

E eis, então, que algo acontece: a visita do camelivros à escola, que quebra a rotina, desacomoda a poeira nos cantos da sala, suspende a aula enfadonha. E logo surgem outros, muitos outros... Até os professores vibram com a possibilidade de gozar algumas horas de ócio...

Camelivros carregados de sacolas esbarram uns nos outros, e em si mesmos, nos corredores da escola, cada qual correndo mais que o outro para demarcar espaço, garantir sessões de autógrafos e vender livros. Um verdadeiro camelivródromo, com direito a fotos nas redes sociais expondo as inocentes presas...

E as pobres crianças? As pobres crianças alvoroçam-se como se estivessem em uma loja de brinquedos, iludidas pelo discurso frenético do vendedor. Então, o dinheirinho para o ônibus e o lanche saltam para o bolso dos camelivros, e todos, embriagados pelo efeito dessa dopamina, vivem alguns instantes de espúria felicidade e bem-estar...

Mas o que acontece quando a criança descobre que o brinquedinho veio quebrado ou com defeito? Pagou 20 fiorins e agora não vale mais  que um centavo no mercado de pulgas...


***

Nesta triste cidade, o mercado de livros está certamente contaminado pelo mito do empreendedorismo, pelo pensamento fabril, pelo utilitarismo materialista das coisas imateriais. E quem paga a perdiz são as pobres crianças sem opções de lazer, sem adultos esclarecidos que as orientem para o caminho da literatura de qualidade.

Não é de estranhar que elas queiram imitar os camelivros e, um dia, declarem nas redes sociais, nas orelhas de livros e em entrevistas que o sonho das suas vidas era "ser escritor, tiô!"

Joanim Farofa $ Pepe Caruncho
Direto da redação!

sexta-feira, 20 de abril de 2018

AVISO DE UTILIDADE PÚBLICA

A pedido do nosso querido tio Joanim, divulgamos este que já é o mais importante e tradicional concurso literário da cidade.
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C CONCURSO LITERÁRIO JOANIM PEPPERONI

A primeira 100ª edição do Concurso Literário Joanim Pepperoni está com inscrições abertas em fluxo contínuo e por tempo indeterminado. A competição é destinada a moradores de caxias do çul, da erudição e do mais-do-mesmo, e tem como objetivo fomentar os talentos locais e acabar com indigência literária e autoral desta triste cidade.

Para participar, basta enviar os materiais para o e-mail joanimpepperoni@gmail.com. As inscrições são gratuitas! 

Normas do regulamento:
1. Cada autor poderá inscrever quantos materiais quiser.
2. Serão aceitos materiais de qualquer gênero, desde o técnico até o escatológico.
     2.1 Aceitam-se rascunhos, esboços de ideias e textos ainda não escritos ou extraviados. 
3. Cada material individual deverá vir acompanhado de um pseudônimo, um heterônimo e um anônimo.
4. Não serão aceitos materiais apócrifos.
5. A comissão julgadora será composta por especialistas do Hospital São Pedro, de Porto Alegre.
6. Diferentemente dos concursos tradicionais, o presente certame, em vez de textos,  reunirá os autores para uma "antalogia".

Da premiação:
Em fluxo contínuo, os autores selecionados receberão:
1. Vale-pizzas.
2. Vale-ingressos para o zoológico da Usque.
3. Vale-pernas de salame.
4. Vale-rivotril.
5. Vale-selfies.
6. Vale-banhos no Tega.
7. Vale-uvas para a Festuva 2019.
8. Vale-transportes para serem usados exclusivamente no dia do passe-livre da Visage.
9. Vale-hóstias.
10. Vale-pedágios para serem usados no trecho caxias-farroupilha.
11. Vale-bergamotas para comer na romaria da Caravaggina, em maio.
12. Vale-sagus com creme.
13. Vale-crens.
14. Vale-grôstolis.
15. Vale-tortéis.
16. Vale-ingressos para o filme do Edir Merceno.
17. Vale-danças na Boca D'oro.

Liberte o gênio preso dentro de você! 
Imagine, crie e sonhe, que nós premiamos!
Participe do único concurso que já nasce na centésima edição com todo o respaldo da tradição!
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Joanim Farofa § Pepe Caruncho
Da redação

terça-feira, 17 de abril de 2018

ENTREVISTA COM JOANIM PEPPERONI SOBRE O PROJETO DE LEI 42/2017

Em tempo recorde, conseguimos contato via satélite com nosso tio Joanim Pepperoni PhD, que se encontra em expedição na Idade Média, para ouvir sua opinião sobre o projeto de lei (42/2017) que dispõe sobre a disposição de prateleiras e outros móveis em livrarias e bibliotecas caxienses. Segue a entrevista expressa:

INFAMES INFANTES: Tio Joanim, você já conhecia o projeto de lei 42/2017 ou já tinha ouvido falar dele?

JOANIM PEPEPRONI: Não conhecia, nem nunca ouvi boato sobre ele. Esse é o tipo de coisa tão absurda, que nem para boato serve!... Mas, lendo com atenção o bosquejo de lei e relacionando-o com alguns objetos que encontrei aqui na Idade Média, estou me dando conta que essa ideia foi copiada, às avessas, do Index Librorum Proibitorum da igreja católica. Só que no caso da literatura de caxias do sul, da fé e da erudição, essa lei terá efeito contrário ao que pretende e acabará lançando as obras locais em uma letargia irreversível. Imaginem uma prateleira só com autores locais em destaque numa livraria: a grande quantidade de títulos sem criatividade, as capas de um mau gosto comovente e o conteúdo duvidoso... Tenho para mim que os leitores passarão de fininho, como quem dá um flato e disfarçadamente muda de lugar.

I.I.: Isso significa, então, que a lei será inócua?

J.P.: Inócua para o que pretende legislar. Imaginem, cari, um supermercado com um gigantesco suprimento de linguiças ser obrigado a criar uma prateleira específica para os produtos locais, sendo que todos os clientes já conhecem a qualidade duvidosa desses embutidos... O jeito certo de vender essas salamada é distribuí-la de forma sub-reptícia no meio dos salames bons. Por engano - e a vida é cheia de enganos -, por engano, alguém sempre levará salame de gato no lugar de linguiça de lebre (e pelo mesmo preço!). E isso qualquer comerciante sabe fazer. Não precisa de lei para incentivar.

I.I.: Você acredita que haverá um movimento dos livreiros locais contra a sanção dessa lei pelo prefeito Dalilo?

J.P.: Eu apoiaria abertamente um movimento assim... Mas o que mais me preocupa nessa história é qual setor da prefeitura ficará responsável pela fiscalização e aplicação das multas aos infratores de prateleiras. Qual destas secretarias: Agricultura, Meio Ambiente, Obras, Trânsito, Habitação, Desenvolvimento, Cultura? Haverá um censor ou agrimensor com trena e calculadora em mãos circulando diariamente pelas livrarias e bibliotecas? Como saber se um autor está há dois anos mofando, digo, morando no município? O livreiro terá que solicitar um comprovante de residência ao escritor, tirar uma xérox e arquivar para o caso de o fiscal de prateleiras solicitar? Que tamanho deverá ter essa prateleira? E o que fazer se o escritor publicou em caxias e não mora em caxias? Outra coisa: existe alguma prateleira com livros “invisível” ou escondida dentro das livrarias? Como se define o que é ou não visível ao público? Mais uma questão: o que é uma obra devidamente regularizada e registrada nos órgãos competentes? Por acaso existe obra ilegal, ou uma obra não será legal se não tiver ISBN? Alguma livraria por acaso vende livro pirata? O que se entende por registro nos órgãos competentes? Se for poema de amor, o órgão competente é o coração? Se for erótico, o órgão é o genital? Etc.

I.I.: Como você avalia, do ponto de vista cultural, a concepção de um projeto dessa natureza?

J.P.: Aqui na Idade Média, tem muito material empírico para responder a esta pergunta. Mas vou utilizar um exemplo de quando estive na Idade Antiga. Aquela história de dominar o mundo, que iniciou no século V a.C., encontra-se no DNA atual. O sentimento de superioridade e de grandeza manifesta-se aqui e ali, de tempos em tempos. O Mare Nostro, com o tempo, virou a Terra Nostra. Então, esse tipo de projeto de lei liga-se ao passado longínquo, quando quer expor com prioridade, destaque e visibilidade, nas estantes, as obras culturais e literárias de autores locais, fazendo surgir daí o Scrittore Nostro!

I.I.: Obrigado, tio Joanim, pela excelente entrevista!

J.P.: Eu é que agradeço a oportunidade! Se algum livreiro infrator quiser o contato de um advogado para recorrer das multas, posso indicar o...

Joanim Farofa $ Pepe Caruncho
Da redação 

segunda-feira, 16 de abril de 2018

LEGISLADORES x LIVREIROS

Nesta triste cidade, um petiz cagou uma lei sobre o que não requer legislação. Com afetação de caudilho em cima de um jumento empacado, ergueu nos ares a sua Bic roída e deu um canetaço no lombo dos livreiros. 

Com isso, o excretor ganha status de escritor, e o livreiro vira infrator!

Expliquemos:

PROJETO DE LEI 42/2017

Art. 1º É obrigatória a exposição, com prioridade e destaque, nas estantes das livrarias e bibliotecas, das obras culturais literárias de qualquer área do conhecimento, de autores residentes no município de Caxias do Sul há mais de 2 (dois) anos.
§ 1º As estantes onde serão expostos os livros em questão deverão estar em local visível ao público
§ 2º Nas estantes serão divulgadas as obras que estejam devidamente legalizadas e registradas nos órgãos competentes
Art. 2º Nas estantes onde as obras literárias ficarem expostas deverá constar, em específico destaque, o título: Autores de Caxias do Sul. 
Art. 3º A livraria, que use de catálogo ou qualquer outro meio de divulgação de venda, deve fazer constar, em prioridade, as obras de autores locais, para comercialização. 
Art. 4º As livrarias e as bibliotecas, em atividade, terão o prazo de 90 (noventa) dias, contados da publicação desta Lei, para procederem a devida adaptação
Art. 5º O descumprimento do disposto nesta Lei acarretará ao infrator, sanção administrativa no valor de 30 VRM´s. 
Art. 6º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. 

(RAFAEL BUENO - PDT)


Em breve, publicaremos sobre o assunto um entrevista com o maior escritor da Terra da Cocanha, o nosso querido tio Joanim Pepperoni PhD, que se encontra em uma missão antropoletológica na Idade Média.

Joanim Farofa û Pepe Caruncho
Dai Giornali


quarta-feira, 11 de abril de 2018

DOS OFÍCIOS DE ESCRITOR, PADRE E EMPREENDEDOR

Nesta triste cidade, ou se é empreendedor, ou se é padre ou se é escritor.
Ou se é as três coisas ao mesmo tempo. 
Ou, de todas, apenas duas. 
Nunca apenas uma só. 
E, não sendo nenhuma delas, é-se nada! 

O que queremos dizer é que o padre, além de padre, pode ser ou empreendedor, ou escritor, ou empreendedor e escritor. O empreendedor pode ser ou padre, ou escritor, além de empreendedor, ou padre e escritor. E o escritor pode ser empreendedor e padre, ou padre, ou empreendedor, além de escritor. 

Simples assim! 

Claro que tudo isso não necessariamente nessa sequência... Mas na ordem de importância que for conveniente para cada um deles.

Joanim Farofa und Pepe Caruncho
Redatores

sábado, 7 de abril de 2018

SOBRE "FEIRAS DO DEUS ME LIVRE"

Sobre as feiras de livros – que nós, aqui da redação, preferimos chamar de Feiras do deus me livre – haveria a possibilidade de escrever um verdadeiro tratado zoológico.

Isso porque toda triste cidade tem a sua Feira do deus me livre, na qual os tipos mais estapafúrdicos da fauna escrevinhadora desfiam seu enredo de pérolas “literárias”. Misto de convenção de ogros, Festa Ploc dos anos 80 e assembleia de diletantes, as feiras há muito perderam sua relevância cultural. 


Nós, os Infames Infantes, já não aguentamos mais o amadorismo, o cabotinismo e a demonstração pública do rebaixamento estético a que as feiras foram reduzidas. Homenageia-se o pioneirismo do Fulano que distribuiu um “livro” mimeografado em 1960; reverencia-se a prodigalidade da Sicrana que escreveu versinhos enquanto tricotava uma manta para a casinha do cachorro; eleva-se à condição de referente cultural o Beltrano que produziu uma narrativa ginasiana sobre as aventuras sexuais vividas durante as férias escolares; festeja-se o Milano que... Deixemos pra lá! 

Tudo isso financiado com dinheiro público e abonado por um corpo seleto de especialistas! Tudo isso para o “bem da cultura”, para homenagear “os nossos talentos locais” e para “festejar a literatura” - expressões que ouvimos costumeiramente nos discursos pronunciados por uma caterva política incapaz de distinguir uma revista Reader’s Digest de uma obra literária. 

As Feiras do deus me livre vão mal, muito mal. Mal mesmo!

Da sua composição, via de regra, participam tantos bajuladores quantos couberem no palanque de abertura. 

Como a literatura já deixou de ser o foco do evento, a solução é transformá-la numa feira paroquial, onde tudo pode ser experimentado, exceto boa literatura. Assim, são convidados cantores, piadistas de stand up, blogueiros e cuspidores de fogo, e oferecidos food trucks, camas elásticas, pescarias, mesas de pife e canastra, bancas de adoção de animais abandonados e cursinhos expressos de degustação de vinho doce de garrafão. Tudo para entreter a audiência, que nem lembra o que realmente deveria ser homenageado.


Daqui da redação, ficamos felizes quando uma nova Feira do deus me livre é realizada. Felizes, porque há muito não participamos delas. Felizes por não fazermos coro ao freak show que faz ecoar pela triste cidade uma exaltação constrangedora da nossa indigência literária.

Joanim Farofa ed Pepe Caruncho
4º andar do Observatório Colonial

quinta-feira, 5 de abril de 2018

UMA BIOGRAFIA EXTRAORDINÁRIA

Ué Linton Roquette Pedroz nasceu em Vila Seca, em 1998. Ainda criança descobriu que tinha aptidões para a poesia: assobiava muito bem e mugia como ninguém. Com 7 anos, tentou voar, mas quebrou o queixo, sabe-se lá como. Ficou entrevado durante meses. E foi nessa época que descobriu Dom Queixote.

Pulou os poemas introdutórios, pois os achou longos demais. Leu dois capítulos do triste fidalgo e depois se encheu o saco. Um dia, à toa, leu um versinho de Manoel de Barros que dizia algo como “voar fora da asa” e achou que isso combinava com o seu salto infantil. Então começou a escrever versos, rimas, trocadalhos, brinquiversos, para conquistar as coleguinhas. Eis alguns:

atual mente
a tua mente
me mente
//
a porta
nom
importa
//
ó Nena, ver-
te me
envenena

Quando debutou, aos quinze anos, ganhou uma viagem para Orlândia, parque de diversões que só abre em abril e onde se encontram os maiores poetas que se dizem vivos: Feiobrício Carpiajato, Mortha Marceneira, Germinia Jaquetinha e Celsinho Gutiguti. Depois, de volta a caxias do sul, da fede, do travalho e da erodição, as editoras Malecoleco, Bolas ou Letras e De-Quatrinho disputaram suas obras a unhas e dentes, chutes e bochadas. Firmou contrato, porém, com a editora paulista Chichon, a fim de expandir o hálito. Mas essa casa editorial passou-o para trás, roubou-lhe os originais e os publicou com outro nome. Por isso, existe hoje o famosíssimo livro Eu me chamo Cléber, assinado por Jefferson Tanahora.


Para se vingar, criou uma página no Face chamada “Eu me chamo Ué Linton”, a qual não vingou, pois, segundo os faceiros, ela não era suficientemente “original”. Passou, então, a escrever sonetos tão clássicos quanto o filme A Lagoa Azul, que passa na Sessão da Tarde, e o famigerado Malhacán, um programa televisivo para Nanes em miniatura. 

Levou para casa a estatueta do Prêmio Várzea™ em 2018. Hoje em dia está fazendo uma adaptação livre do clássico Fausto, de Johan Wofgang von Goethe, onde o personagem principal, atualizado para os dias de hoje, encontra-se num pacto com o capeta e, por isso, precisa se apresentar, todo domingo, no programa Domingão do Faustão.

Atualmente, pleiteia a cadeira 666 da Academia Coxinhense de Lontras.

Joanim Faropa et Pepe Caruncho
Direto da Redação



quarta-feira, 4 de abril de 2018

A LITERATURA NÃO TEM A CURA!

Nesta triste cidade, há escritores que evacuam aos quatro cantos que a literatura tem a cura para os males existenciais.

Na concepção desses escrevinhadores, todas as livrarias e casas do ramo deveriam ser extintas, já que seus livros podem ser comprados através do catálogo do Sidney Oliveira, junto com um frasco de Ômega 3.

Pobres diletantes que não sabem o que dizem! Na sua enferma condição, fazem crer que uma obra literária é igual a um Kinder Ovo, que traz no seu oco uma dose de Rivotril.

Quem quer cura para para sua neurose, busque um psiquiatra, um exorcista ou um galão de água benta do pastor R.R. Soares.

Mas é chegada a hora da verdade, caros escrevinhadores! 

Resolvam seu dramas pessoais com ansiolíticos, antiácidos e antiflatulentos! Não faltem às sessões de terapia! Enfrentem o capeta com lhaneza! 

E, por favor, não enredem o leitor nas suas misérias pessoais. Elas só interessam se forem alçadas a um nível de humanidade e de elaboração artística que muitos de vocês já deram provas suficientes de não possuir. 

Acima de tudo, para escrever, inspirem-se nos grandes, nos mais grandes e no bem maiores - naqueles que há muito vêm demonstrando que a literatura não é uma dose de Buscopan.

E se nada disso resolver, incinerem tudo - começando por si mesmos! 


Joanim Farofa y Pepe Caruncho
Direto da Redação

domingo, 25 de março de 2018

SOBRE ESTRELINHAS NO CADERNO

Nesta triste cidade, há escritores que lembram crianças quando recebem estrelinhas no caderno e as exibem aos coleguinhas como se fossem troféus.

Nada a opor aos infantes, em idade escolar, com suas constelações de estrelinhas.

Mas os infames!...

Os infames adultos, que se apresentam como escritores, mas agem como militares ou desportistas, colecionando troféus, medalhas, certificados, insígnias, condecorações, divisas, galardões, láureas e outros tantos penduricalhos - esses deveriam se enforcar com os cordões das medalhas! 

Um concurso literário não significa quase nada, quando não significa nada em absoluto. 

Um concurso que cobra inscrição não é um concurso: é um caça-níquel. Um concurso que pede dinheiro para publicar uma antologia com os textos selecionados, em troca de exemplares, não é um concurso: é um caça-tolos. Um concurso que não divulga, a posteriori, o nome dos jurados - ou que tem jurados bisonhos - não é um concurso: é um conventrículo. 

E premiação que não acontece pelo sistema blind-review sempre gera questiúnculas sobre suposta "marmelada". Por exemplo:

"Eu escrevo sonetos-netos-netos
com versos decassílabos e rimados.
Eu uso o mesmo tema, sempre azado,
pra escrever meus sonetos-netos-netos.

Mais do mesmo eu escrevo..."
                           (Assinado: Joanim Farofa, amigo dos jurados)
               
Literatura é exercício, ensaio, reflexão e leitura, e não adversários, competições, medalhas etc. 

Nesta triste cidade, muitas vezes, um caderno escolar com estrelinhas tem mais valor literário que um livro premiado na estante.

Joanim Farofa & Pepe Caruncho
Infames Infantes

sexta-feira, 23 de março de 2018

OS GATOS SÃO SÁBIOS


Chegou o tempo em que não se consegue mais dizer em relação a alguns escritores: “Meu deus, que livro bom!”

Vítimas da ansiedade do nosso tempo, escrevem como quem sofre de disenteria crônica. Expelem não um, mas dois, três, quatro livros por ano!

Onde já se viu isso?! Quá perto nós, bem perto. Entre nós.

E não são obras essenciais. Geralmente, não são mais do que mais do mesmo... Mesmo!

Ora, a gente bem que se esforça para acompanhar a evolução da doença desses autores. Mas não há bolso nem saúde mental que aguentem.

Onde está o texto essencial? Onde está a obra necessária?

Deus queira que um autor com disenteria crônica não contraia, simultaneamente, uma virose crônica: além da diarreia, teríamos a flatulência, o catarro, o suor noturno e o vômito. Intermitentes! Aí sim, o caos completo para os leitores e a morte certa para o escritor.

Haja olina e elixir paregórico! Haja soro e papel higiênico!

O que devia encher de júbilo o ego de um escritor é a qualidade e não a quantidade de obras publicadas. Lemos aqui numa orelha suja: “Fulano de Tal nasceu em 1980 e é autor de mais de trinta livros de contos, poesias e romances”. Oi? Mais de trinta obras sem apreciação, sem circulação, sem reconhecimento das instâncias superiores e inferiores da crítica literária. Mais de trinta livros natimortos, sem autópsia, desovados na garagem de casa ou enterrados clandestinamente num terreno baldio do sistema literário.

Temos, aqui no Observatório  Colonial, um gato. Prudentíssimo, ele jamais deixa suas fezes expostas. Enterra-as, com a delicadeza da espécie, para que o mau cheiro não conspurque o nosso ar e não atraia moscas ou predadores.

Os gatos são sábios.

Joanim Farofa & Pepe Caruncho
Da redação

domingo, 18 de março de 2018

ADVERTÊNCIAS NECESSÁRIAS

Autor e leitor, entendamo-nos!

Antes que alguém ligue para o bispo, para o prefeito, para o corpo de bombeiros ou para um assassino de aluguel, deixemos claro o seguinte:
1. Este blogue torna-se imperativo pelo fato de nesta cidade não existir crítica literária que ponha pingos no is e hífenes nas mesóclises. 
2. Este blogue não pautará suas opiniões e escolhas com base em caprichos pessoais. Capricho é uma revista de mi-mi-mi criada pela Abril, em 1956 e, graças a deus, já fora de circulação.
3. Este blogue avaliará obras e não pessoas e autores. Interessa apenas a coesão da fatura do texto e não a fatura da coesão da pessoa atrás do autor do texto.
4. Este blogue é anônimo, para que se evitem ofensas pessoais aos Infames Infantes, quando nas suas atividades ordinárias.
5. Este blogue não aceita originais para avaliação.
6. Este blogue não deve nada a ninguém, não depende de favores, nem aceita presentes, dinheiro ou elogios.
7. Este blogue não reconhece assinaturas, porque não é cartório.
8. Este blogue repudia tudo o que fere o bom-senso e os sinônimos da palavra sensatez.
9. Este blogue é de responsabilidade dos seus idealizadores e não aceita resenhas de terceiros.

Na expectativa do entendimento mútuo,

Joanim Farofa & Pepe Caruncho
Redatores-mor


sábado, 17 de março de 2018

ABRINDO OS TRABALHOS

Os autores que nos aturem, e os leitores que nos perdoem. Mas é imperioso que alguém comente a literatura publicada em caxias do sul neste século suicida. Alguém que coloque pingos nos is e vírgulas nas frases. 

Assim como as coisas andam, em breve teremos mais autores que leitores, pois há muitos que não leem nem mesmo os seus originais. Tratam o texto como uma cagada: levantam do vaso, fecham a tampa e dão a descarga sem examinar as fezes. O leitor que engula!

Triste cidade do sul, da fé, do trabalho e da erudição! 

Os escritores são poucos; os evacuadores, muitos.

A impressão que temos é a de que um vírus se alojou em todas as almas ingênuas e parvas desta cidade. Um vírus engendrado pelos concursos literários e financiamentos públicos de livros. Um surto de diarreia, que se transformou em epidemia e que já caminha para uma pandemia irreversível!

Chamem-nos como quiserem... Denunciem-nos... Insultem-nos... Excomunguem-nos...  




Nós somos os Infames Infantes da crítica literária de caxias do sul, da fé, do diabo-a-quatro!

Joanim Farofa & Pepe Caruncho

Redatores-chefes


JOANIM PEPPERONI ENTREVISTA JOANIM PEPPERONI

Prestes a publicar o meu quarto livro neste sinistro ano de 2020, dirigi-me bem cedo até a Sala de Prensas do Observatório Colonial para...