terça-feira, 17 de abril de 2018

ENTREVISTA COM JOANIM PEPPERONI SOBRE O PROJETO DE LEI 42/2017

Em tempo recorde, conseguimos contato via satélite com nosso tio Joanim Pepperoni PhD, que se encontra em expedição na Idade Média, para ouvir sua opinião sobre o projeto de lei (42/2017) que dispõe sobre a disposição de prateleiras e outros móveis em livrarias e bibliotecas caxienses. Segue a entrevista expressa:

INFAMES INFANTES: Tio Joanim, você já conhecia o projeto de lei 42/2017 ou já tinha ouvido falar dele?

JOANIM PEPEPRONI: Não conhecia, nem nunca ouvi boato sobre ele. Esse é o tipo de coisa tão absurda, que nem para boato serve!... Mas, lendo com atenção o bosquejo de lei e relacionando-o com alguns objetos que encontrei aqui na Idade Média, estou me dando conta que essa ideia foi copiada, às avessas, do Index Librorum Proibitorum da igreja católica. Só que no caso da literatura de caxias do sul, da fé e da erudição, essa lei terá efeito contrário ao que pretende e acabará lançando as obras locais em uma letargia irreversível. Imaginem uma prateleira só com autores locais em destaque numa livraria: a grande quantidade de títulos sem criatividade, as capas de um mau gosto comovente e o conteúdo duvidoso... Tenho para mim que os leitores passarão de fininho, como quem dá um flato e disfarçadamente muda de lugar.

I.I.: Isso significa, então, que a lei será inócua?

J.P.: Inócua para o que pretende legislar. Imaginem, cari, um supermercado com um gigantesco suprimento de linguiças ser obrigado a criar uma prateleira específica para os produtos locais, sendo que todos os clientes já conhecem a qualidade duvidosa desses embutidos... O jeito certo de vender essas salamada é distribuí-la de forma sub-reptícia no meio dos salames bons. Por engano - e a vida é cheia de enganos -, por engano, alguém sempre levará salame de gato no lugar de linguiça de lebre (e pelo mesmo preço!). E isso qualquer comerciante sabe fazer. Não precisa de lei para incentivar.

I.I.: Você acredita que haverá um movimento dos livreiros locais contra a sanção dessa lei pelo prefeito Dalilo?

J.P.: Eu apoiaria abertamente um movimento assim... Mas o que mais me preocupa nessa história é qual setor da prefeitura ficará responsável pela fiscalização e aplicação das multas aos infratores de prateleiras. Qual destas secretarias: Agricultura, Meio Ambiente, Obras, Trânsito, Habitação, Desenvolvimento, Cultura? Haverá um censor ou agrimensor com trena e calculadora em mãos circulando diariamente pelas livrarias e bibliotecas? Como saber se um autor está há dois anos mofando, digo, morando no município? O livreiro terá que solicitar um comprovante de residência ao escritor, tirar uma xérox e arquivar para o caso de o fiscal de prateleiras solicitar? Que tamanho deverá ter essa prateleira? E o que fazer se o escritor publicou em caxias e não mora em caxias? Outra coisa: existe alguma prateleira com livros “invisível” ou escondida dentro das livrarias? Como se define o que é ou não visível ao público? Mais uma questão: o que é uma obra devidamente regularizada e registrada nos órgãos competentes? Por acaso existe obra ilegal, ou uma obra não será legal se não tiver ISBN? Alguma livraria por acaso vende livro pirata? O que se entende por registro nos órgãos competentes? Se for poema de amor, o órgão competente é o coração? Se for erótico, o órgão é o genital? Etc.

I.I.: Como você avalia, do ponto de vista cultural, a concepção de um projeto dessa natureza?

J.P.: Aqui na Idade Média, tem muito material empírico para responder a esta pergunta. Mas vou utilizar um exemplo de quando estive na Idade Antiga. Aquela história de dominar o mundo, que iniciou no século V a.C., encontra-se no DNA atual. O sentimento de superioridade e de grandeza manifesta-se aqui e ali, de tempos em tempos. O Mare Nostro, com o tempo, virou a Terra Nostra. Então, esse tipo de projeto de lei liga-se ao passado longínquo, quando quer expor com prioridade, destaque e visibilidade, nas estantes, as obras culturais e literárias de autores locais, fazendo surgir daí o Scrittore Nostro!

I.I.: Obrigado, tio Joanim, pela excelente entrevista!

J.P.: Eu é que agradeço a oportunidade! Se algum livreiro infrator quiser o contato de um advogado para recorrer das multas, posso indicar o...

Joanim Farofa $ Pepe Caruncho
Da redação 

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